Ele começou por me morder o braço, de leve, e depois passou para a bochecha, com mais força. A mão: pegou-me na mão e trincou. Agora já me queres magoar a sério. Depois, vieram as agulhas, pequeninas, afiadas, invisíveis – uma a uma, espetaram-se nas costas. Não, não quero. Isto é o amor.. As agulhas cresceram, transformaram-se em punhais, igualmente invisíveis, mas mais penetrantes, que ele me espetou, de uma vez. Foi doce, juro que foi doce. (Se o pudesses sentir, vias que era doce.) Estás quase a conseguir. Devias ficar orgulhosa de mim, nem uma lágrima verti. Senti o sangue quente a correr o meu corpo, a inundar ferida a ferida, e não chorei. Até que o meu peito se abriu. Senti-o alargar-se, expandir, até ter o dobro do tamanho, e depois explodiu. Desde então que tenho um buraco no peito, uma dor forte, muito forte, no estômago. Eu disse-lhe que era fome, e comi, mas a dor não passou. Eu disse-lhe que era ele, a culpa era dele. Desculpa. Eu desculpei, mas a verdade é que o buraco no peito permaneceu e a dor no estômago tem voltado. Mas, olha, devias estar orgulhosa: não chorei.
After the storm.
26/04/10
And there will come a time, you'll see, with no more tears.
And love will not break your heart, but dismiss your fears.
Get over your hill and see what you find there,
With grace in your heart and flowers in your hair.
21/04/10
Nada melhor que a luz do sol do fim da tarde. Tem um ar triste, vencido, ultrapassado. E morno. E nunca fui de morno: ou muito quente, ou muito frio. Como nós, aliás, não achas?
(se reparares na letra, é muito eu, agora)
Tiquetaquear
Sempre gostei do tiquetaquear do relógio,
Excepto quando o tempo me falta.
E, nestes dias, o tempo tem viajado mais rápido que a luz,
Os dias parecem minutos,
As semanas parecem dias.
Gosto de pensar que posso, facilmente, controlar o tempo,
Como algo subjectivo que é.
Mas a verdade é que os sentimentos também são subjectivos,
E, não por isso, fáceis de controlar.
É que isto de estudar os velhos tem os seus quês,
Porque o certo é que, um dia,
Seremos todos velhos e espantosamente distantes.
Por isso, comprei um relógio sem ponteiros,
Para abafar o tiquetaque,
E ver se não vejo os minutos a correr,
Enquanto o sol e a chuva vão trocando a vez,
E nós?, nós vamos ficando todos velhos.
Frios, cada vez mais frios.
E espantosamente distantes.
Eu devia estar a estudar, devia. Mas quando há febre fotográfica e alternativa é, humm, marrar história (ou psicologia, na primeira fotografia), não há muito a fazer. Depois, são os dedos sujos de marcador: mais um aspecto no qual eu sou uma criança (devo ser criança em todos os aspectos, excepto a forma de pensar e agir); e não esqueçamos a grande vontade de desenhar espirais floreadas e corações pelos resumos fora. Por último, por algum motivo oculto (ok, deve ser o som), adoro, adoro, rasgar papel.
Sunny days are over.
Escreveste na minha mão estas palavras, com um sorriso triste desenhado entre as bochechas. E foram as últimas que ouvi de ti, antes de o sorriso se apagar. Pegaste no teu casaco preto, puseste-o sobre os ombros e caminhaste em direcção ao sol apagado.
Depois, não foi mais nada.
Os meus olhos banhados em lágrimas sorriram para ti, e fecharam-se, por causa do sol forte e baixinho. A verdade é que, a cada dia que passa, o sol torna-se mais e mais forte, sempre a queimar-me os olhos semicerrados. E é assim que eu tenho oscilado entre o sorriso e as lágrimas sem que ninguém se aperceba.
E sim, sei perfeitamente o que querias dizer. Os dias de sol acabaram.
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