Ele começou por me morder o braço, de leve, e depois passou para a bochecha, com mais força. A mão: pegou-me na mão e trincou. Agora já me queres magoar a sério. Depois, vieram as agulhas, pequeninas, afiadas, invisíveis – uma a uma, espetaram-se nas costas. Não, não quero. Isto é o amor.. As agulhas cresceram, transformaram-se em punhais, igualmente invisíveis, mas mais penetrantes, que ele me espetou, de uma vez. Foi doce, juro que foi doce. (Se o pudesses sentir, vias que era doce.) Estás quase a conseguir. Devias ficar orgulhosa de mim, nem uma lágrima verti. Senti o sangue quente a correr o meu corpo, a inundar ferida a ferida, e não chorei. Até que o meu peito se abriu. Senti-o alargar-se, expandir, até ter o dobro do tamanho, e depois explodiu. Desde então que tenho um buraco no peito, uma dor forte, muito forte, no estômago. Eu disse-lhe que era fome, e comi, mas a dor não passou. Eu disse-lhe que era ele, a culpa era dele. Desculpa. Eu desculpei, mas a verdade é que o buraco no peito permaneceu e a dor no estômago tem voltado. Mas, olha, devias estar orgulhosa: não chorei.
21/04/10






Nada melhor que a luz do sol do fim da tarde. Tem um ar triste, vencido, ultrapassado. E morno. E nunca fui de morno: ou muito quente, ou muito frio. Como nós, aliás, não achas?
(se reparares na letra, é muito eu, agora)
Tiquetaquear
21/04/10
Sempre gostei do tiquetaquear do relógio,
Excepto quando o tempo me falta.
E, nestes dias, o tempo tem viajado mais rápido que a luz,
Os dias parecem minutos,
As semanas parecem dias.
Gosto de pensar que posso, facilmente, controlar o tempo,
Como algo subjectivo que é.
Mas a verdade é que os sentimentos também são subjectivos,
E, não por isso, fáceis de controlar.
É que isto de estudar os velhos tem os seus quês,
Porque o certo é que, um dia,
Seremos todos velhos e espantosamente distantes.
Por isso, comprei um relógio sem ponteiros,
Para abafar o tiquetaque,
E ver se não vejo os minutos a correr,
Enquanto o sol e a chuva vão trocando a vez,
E nós?, nós vamos ficando todos velhos.
Frios, cada vez mais frios.
E espantosamente distantes.
21/04/10







Eu devia estar a estudar, devia. Mas quando há febre fotográfica e alternativa é, humm, marrar história (ou psicologia, na primeira fotografia), não há muito a fazer. Depois, são os dedos sujos de marcador: mais um aspecto no qual eu sou uma criança (devo ser criança em todos os aspectos, excepto a forma de pensar e agir); e não esqueçamos a grande vontade de desenhar espirais floreadas e corações pelos resumos fora. Por último, por algum motivo oculto (ok, deve ser o som), adoro, adoro, rasgar papel.
Sunny days are over.
14/04/10
Escreveste na minha mão estas palavras, com um sorriso triste desenhado entre as bochechas. E foram as últimas que ouvi de ti, antes de o sorriso se apagar. Pegaste no teu casaco preto, puseste-o sobre os ombros e caminhaste em direcção ao sol apagado.
Depois, não foi mais nada.
Os meus olhos banhados em lágrimas sorriram para ti, e fecharam-se, por causa do sol forte e baixinho. A verdade é que, a cada dia que passa, o sol torna-se mais e mais forte, sempre a queimar-me os olhos semicerrados. E é assim que eu tenho oscilado entre o sorriso e as lágrimas sem que ninguém se aperceba.
E sim, sei perfeitamente o que querias dizer. Os dias de sol acabaram.
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