29/04/10

Ele começou por me morder o braço, de leve, e depois passou para a bochecha, com mais força. A mão: pegou-me na mão e trincou. Agora já me queres magoar a sério. Depois, vieram as agulhas, pequeninas, afiadas, invisíveis – uma a uma, espetaram-se nas costas. Não, não quero. Isto é o amor.. As agulhas cresceram, transformaram-se em punhais, igualmente invisíveis, mas mais penetrantes, que ele me espetou, de uma vez. Foi doce, juro que foi doce. (Se o pudesses sentir, vias que era doce.) Estás quase a conseguir. Devias ficar orgulhosa de mim, nem uma lágrima verti. Senti o sangue quente a correr o meu corpo, a inundar ferida a ferida, e não chorei. Até que o meu peito se abriu. Senti-o alargar-se, expandir, até ter o dobro do tamanho, e depois explodiu. Desde então que tenho um buraco no peito, uma dor forte, muito forte, no estômago. Eu disse-lhe que era fome, e comi, mas a dor não passou. Eu disse-lhe que era ele, a culpa era dele. Desculpa. Eu desculpei, mas a verdade é que o buraco no peito permaneceu e a dor no estômago tem voltado. Mas, olha, devias estar orgulhosa: não chorei.

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