(foto tirada em 2007)
Eu sinto-me a mesma. Mas sei que mudei imenso. E as minhas prateleiras não são as mesmas. Já não tenho a nossa foto exposta, nem o nosso abalone, nem os meus livros de poemas, nem os meus laços de embrulhar presentes, nem os meus desenhos sobre ti, nem os meus cds, nem o teu cd, nem nada disso. Agora está tudo arrumado em gavetas, em armários, em caixas. Tudo arrumadinho, porque eu já não sou a tua Inês. Já não sou a mesma. Já não sou a mesma Inês de franja-ao-lado e medo de dizer o que pensa. Já não sou a mesma Inês que gosta de caveirinhas e rosa-choque conjugado com preto. Já não sou a mesma Inês que acha que para sentir, é preciso chorar por amor. Mas sim, continuo a ser eu. Um eu que já não pensa em ti e que já não sente saudades tuas. Um eu que admite a tua importância, mas que sabe que és um fantasma do passado.
E todos nós somos feitos de passado.
Só me pergunto se te lembras que eu sou o teu passado também. E podes dizer que não, porque eu agora já não vou ficar magoada. E sinto-me feliz, porque sei que cresci.
